No capítulo anterior...
Antonio
se convence de que sua situação é bastante complicada
Ao contrário,
Beija sonha e faz muitos planos
Antonio
tenta esclarecer alguns pontos, mas ela ignora
Beija
resolve procurar Dona Ceci
CAP. 22
Beija está feliz por rever uma pessoa tão querida. Mas Dona Ceci
não é a mesma de dois anos atrás...
CECI (fria): Como ousas,
Beija, botar os seus pés na minha casa?
BEIJA (estranhando): Não
entendo porque me tratas assim, tenho tanta consideração pela senhora...
CECI: E você por acaso tem
consideração por alguém? Se não teve nem para com o seu próprio avô, porque
teria comigo?
BEIJA: Me recuso a
acreditar que a senhora também acredite num absurdo desses! Eu fui tão vítima
quanto ele. Os homens do Ouvidor mataram o meu avô...
CECI: Não é isso que dizem
por aí...
BEIJA: Por que faria uma
crueldade dessas com meu próprio avô, a pessoa que mais amava no mundo?
CECI: Todos sabem,
Beija... Todos sabem: para fugir com o Ouvidor e se tornar uma mulher rica...
Todos comentam os olhares libidinosos que você lançava para Dr. Motta no baile
do arraial...
BEIJA: Calúnias! Infâmias,
inverdades, só isso! Fui tão vítima quanto o meu avô! (chorando) Fui arrancada
da minha família, desonrada e obrigada a viver como esposa daquele canalha!
Todos ficaram com pena do meu avô, mas em nenhum instante pensaram em mim!
CECI (debochando): Ora,
Beija, não se faça de vítima. Guarde suas lágrimas para quem não lhe conhece de
verdade e possa acreditar nas suas lamentações... De santa você não tem nada...
BEIJA (incrédula): A
senhora parece outra pessoa... Nem parece aquela mulher que me amava, que tinha
carinho por mim... Que dizia que me considerava como sua filha...
CECI (seca): Não tenho
filhos assassinos! Porque é isso que você é: uma assassina!
BEIJA: A senhora não é a
dona Ceci que eu conhecia...
CECI: Você também não...
Hoje é uma mulher dama, uma rameira, uma frega. Rica e poderosa, mas é isso que
você é: uma mulher de vida fácil! Aliás, o que veio fazer em São Domingos? Por que
não ficou por lá mesmo, exercendo o ofício da libertinagem?
BEIJA: Motta era casado.
Não poderia chegar acompanhado à Corte.
CECI: E por isso você
voltou, para nos atormentar, para envergonhar nosso arraial e perturbar as
famílias de bem desse lugar?
BEIJA: Voltei para tocar a
minha vida, do lugar onde parei. Tomar posse das terras do meu avô, que por
direito me pertencem...
CECI (irônica): Só falta
dizer que ainda quer seu lugar ao lado de Antonio, casar, ter filhos do meu
filho...
BEIJA (altiva): Isso
também está nos meus planos, afinal de contas nos amamos desde crianças...
CECI (gritando): Só
passando por cima do meu cadáver! (pausa) Além do mais, passa pela sua cabeça
que Antonio a tomará por esposa? Uma mulher desonrada, falada até pelos
cachorros do sertão das Gerais, que se enriqueceu deitando com uns e outros? Só
se ele tivesse louco!
BEIJA (desafiando): Pois
fique sabendo que Antonio está louco sim. Louco de amor por mim! E não é nada
dessas sandices que ele diz quando está na minha cama! Ele só me diz palavras
de amor, de carinho...
CECI (transtornada): Quer
dizer que Antonio anda freqüentando a sua casa? Não posso acreditar!
BEIJA (zombando): Pelo
visto seu filho é bem mais sensato que a senhora!
CECI (descontrolada, aos
gritos): Fora daqui, Beija! Fora, rameira dos infernos! Mensageira de satanás!
Você voltou para nos infernizar! Fora da minha casa, antes que eu a expulse
daqui a pauladas! Fora Beija! Encarnação do demônio! Fora!
Continua amanhã...
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