31 de dez. de 2011

Encontro do Século - CAP. 42



No capítulo anterior...
- Sem companhia para a ceia de Natal a patroa convida as escravas
- Elas falam do finado Sr. João, avô de Beija
- A patroa manda que os escravos convidem os mendigos
- Beija serve um almoço de Natal para os pobres e necessitados
- O Visconde de Perdizes chega e se assusta com a movimentação

CAP. 42

Moisés percebe a presença do Visconde e seu desconforto diante da situação e avisa a patroa.

MOISÉS: Sinhá, o Visconde de Perdizes tá no portão e parece bastante embaraçado com esse tanto de gente aqui no Jardim...
BEIJA: Pode deixar, Moisés, vou recebê-lo.

Ela vai ao encontro do cavalheiro e o conduz para a sala de visitas do sobrado.

PERDIZES: Perdão, Beija, não sabia que você estava ocupada.
BEIJA: Não tanto que não possa lhe dedicar alguns minutos.
PERDIZES: Permita-me a intromissão, mas... (meio embaraçado) Porque recebe essas pessoas na sua casa?
BEIJA: Para praticar o bom hábito da caridade... Sou uma pessoa muito grata a Deus pelo muito que me deu. Sinto-me na obrigação de dividir com os menos favorecidos...
PERDIZES: Entendo. Mas não seria mais prático que distribuísse a comida lá pelas ruas mesmo?
BEIJA: Prático seria, mas não daria a elas o prazer de serem bem tratadas, bem recebidas, acolhidas...
PERDIZES: Você me surpreende a cada dia... É uma mulher de sentimentos muito nobres...
BEIJA: Mas não foi para falar da nobreza dos meus sentimentos que o senhor veio aqui...
PERDIZES: Certamente que não, embora eles sejam um aperitivo para a nossa conversa. Vim para lhe fazer um convite.
BEIJA (empolgada): Convite?
PERDIZES: Sim, para um baile em homenagem ao Visconde de Andaluz, que está de partida para Portugal. E o principal: com a presença do Príncipe Regente.
BEIJA: Muito gentil de sua parte. Convite aceito.
PERDIZES: Agora volte para seus convidados, não quero lhe atrapalhar...

Beija volta para o jardim ainda mais animada. A idéia de conhecer o Príncipe Regente lhe enche de alegria.

Chega o dia do Baile. O salão está lotado de nobres.

PERDIZES (ao ouvido de Beija): Na medida do possível vou lhe apresentar à nobreza brasileira. Muitos estão curiosos em saber quem é esta estranha...  (risos)
BEIJA: Huuummm, isso é bom... (pausa) Mas e o Príncipe, já não deveria ter chegado?

Continua segunda-feira...

30 de dez. de 2011

Encontro do Século - CAP. 41



No capítulo anterior...
- O Visconde de Perdizes ignora os escravos
- Mas muda completamente de atitude com a presença de Beija
- Ela adquire um belo sobrado na Rua do Ouvidor
- Chega o Natal e Beija não conhece praticamente ninguém na cidade
- Para não ficar sozinha, convida as escravas para cear com ela.

CAP. 41

BEIJA: Como dizia meu avô, Natal é uma noite muito especial. Vamos celebrar o nascimento de Jesus. Noite de muita paz, amor e harmonia...
FLAVIANA: A Sinhá se lembra muito do Sinhô João, num é?
BEIJA (relembrando): Sim. Ele me levava à Missa do Galo, mesmo sabendo que dormiria a missa toda, mas dizia que eu precisava crescer nos bons costumes... Depois minha mãe servia a ceia e comíamos só nós três, felizes... Muito felizes...
SEVERINA: Pena que aqui a gente não conheça ninguém...
BEIJA: É normal que ainda não tenhamos grandes amigos aqui, afinal de contas acabamos de chegar. Mas estejam certas de uma coisa: um dia ainda vou ter essa cidade aos meus pés...

As três comem e conversam num clima bastante amistoso. Falam de suas famílias, dos Natais passados, dos sonhos de paz, saúde e prosperidade. Beija faz questão de dar a maior atenção às escravas e as trata como se fossem convidadas ilustres, deixando-as pouco à vontade no papel de visitas.

No dia seguinte, durante o café da manhã...

SEVERINA: Sinhá, o que faremos com aquele tanto de comida que sobrou da ceia de ontem?
BEIJA: Bem lembrado. Me chame Moisés e Josué que tenho um servicinho pra eles.

Pouco depois os escravos adentram o recinto.

BEIJA: Quero que dêem uma volta aí pela cidade e procurem por pessoas pobres, aleijados, mendigos, negros, brancos e os convidem para vir aqui em casa na hora do almoço.
JOSUÉ: Mais o que essa gente vem fazê aqui, Sinhá?
BEIJA: Quero servir um almoço de Natal para todos eles. E vocês não me apareçam aqui com menos de vinte ou trinta pessoas, certo?
MOISÉS: Nhá sim.

Por volta das doze horas Moisés e Josué retornam com mais de duas dezenas de pessoas humildes e maltrapilhas. Beija os recebe, com atenção, nos jardins do sobrado. Severina e Flaviana começam a fazer os pratos e a distribuir para os convidados, que vão se acomodando como podem.

Em pleno almoço o Visconde de Perdizes se posta no portão, tão admirado que pergunta para si mesmo.

PERDIZES: Meu Deus! O quê está acontecendo aqui?

Continua amanhã...

29 de dez. de 2011

Encontro do Século - CAP. 40



No capítulo anterior...
- Beija resolve pernoitar na estrada antes de entrar no Rio de Janeiro
- Patroa e escravos ficam deslumbrados com o tamanho da cidade
- Eles procuram pelo Visconde de Perdizes
- O nobre os recebe com indiferença

CAP. 40

Antes que a escrava responda, a patroa surge de trás de uma coluna do muro, surpreendendo o Visconde.

BEIJA: Sou eu quem o procuro, Ana Jacintha de São José, também conhecida como Beija. Venho da parte do Coronel Lourenço, de Vila Rica.
PERDIZES (mudando de atitude): Bem, se a senhorita vem da parte de meu grande amigo Lourenço, também pode ser considerada minha amiga. (beijando-lhe a mão) Seja bem vinda.
BEIJA: Coronel Lourenço fez muitas recomendações a seu respeito. Ele o tem na mais elevada estima.
PERDIZES: Vamos entrar, senhorita.

Beija conta de sua viagem e solicita o auxílio do Visconde para encontrar um imóvel à venda. O nobre faz questão de hospedá-la por alguns dias até que a transação da casa seja concluída.

Alguns dias depois, Beija adquire um belo sobrado na Rua do Ouvidor. Portas e janelas grandes, envidraçadas, com ampla vista da rua. Em pouco tempo toda a mobília do palacete de Paracatu é distribuída pela nova casa.

24 DE DEZEMBRO DE 1817

Beija caminha pela casa verificando a limpeza e a ornamentação natalina.

SEVERINA: A casa está arrumada, toda enfeitada, tudo conforme a Sinhá pediu.
BEIJA: Preciso que faça mais uma coisa.
SEVERINA: E o que é?
BEIJA: Prepare uma ceia caprichada, para muitas pessoas. Quero uma mesa bem farta e variada, de modos que não seja motivo de nenhuma reclamação.
SEVERINA: Mas Dona Beija, nós não temos um único convidado para a ceia de Natal...
BEIJA: Não importa. Faça o que estou mandando.

Próximo da meia-noite Beija adentra o salão de jantar e se admira com a bela ceia disposta sobre a mesa. Senta-se à cabeceira, mas os lugares vagos a incomodam. Pensa por alguns instantes, mas não se conforma...

BEIJA: Severina, Flaviana, sentem-se à mesa comigo.
SEVERINA (estranhando a atitude): Mas, Sinhá...
BEIJA: Sentem-se. É uma ordem. (as duas obedecem e ficam olhando para a cara da patroa) Este é o primeiro Natal que passo sozinha. Mas estejam certas de uma coisa: será o primeiro e o último.

Continua amanhã...

28 de dez. de 2011

Encontro do Século - CAP. 39



No capítulo anterior...
- Lourenço propõe a Beija uma noite de amor
- Ela recusa, mas o convida para ir à sua casa no Rio de Janeiro
- Beija parte de Vila Rica
- A comitiva se aproxima do Rio de Janeiro

CAP. 39

Beija percebe que não será possível alcançar a cidade antes do anoitecer e resolve pernoitar mais uma vez à beira da estrada. Na madrugada seguinte a comitiva parte com o dia ainda escuro.

Horas depois, ao alcançar as primeiras ruas...

BEIJA (deslumbrada): Severina, como é grande! Quantas ruas, quanta gente! Nunca tinha visto nada parecido!
SEVERINA: Nem eu, Sinhá... Nem eu...
BEIJA: Moisés, vá perguntando pelo Largo do Paço. Lourenço disse que a casa do Visconde não fica muito longe desse Paço.
MOISÉS: Nhá sim.
BEIJA: Vamos parar a comitiva em algum lugar. Deixamos Josué e os outros cuidando e nós vamos procurar o Visconde.

Elas se deslumbram com cada descoberta e não se cansam de se chamarem para mostrar isso ou aquilo. Algumas vezes Moisés é obrigado a parar a charrete para que a patroa contemple alguma coisa.

Nas proximidades do Largo do Paço Real...

BEIJA: Moisés, pare por aqui. Vamos, Severina. A casa do Visconde não deve estar longe.

Eles descem da charrete e saem caminhando pela rua. Logo um escravo lhes indica o endereço procurado. Moisés bate palmas.

SEVERINA: Desejamos falar com o Visconde de Perdizes. Ele está?

Antes que a escrava responda, o próprio aparece, com ar esnobe.

PERDIZES: Sou eu mesmo. Quem deseja falar ao Visconde?

Continua amanhã...