No capítulo anterior...
Beija
chega ao arraial e é saudada por muitos homens
Padre
Aranha se alegra ao rever a discípula
As
mulheres evitam a recém-chegada
Beija
vai à missa e sua presença constrange os presentes
CAP. 16
PADRE: Dona Idalina, eu
pretendo continuar a missa...
IDALINA (interrompendo): Se é
que vai haver missa, Padre Aranha! (fitando Beija com ira) Padre, me recuso a
acreditar, eu e as senhoras do Araxá, que o senhor vai permitir a entrada dessa
mundana na nossa igreja! O senhor sabe muito bem dos muitos pecados que essa
rameira é acusada! Até de assassinato!
PADRE (alterado): Não diga
sandices, dona Idalina! A igreja é do Senhor Jesus, um lugar público onde todos
os filhos de Deus são bem vindos!
IDALINA: Até as meretrizes?
As rameiras, as fregas? Olha como essa rapariga é abusada: ainda nos afronta
colocando a negra sentada ao nosso lado, na primeira fila!
Muito envergonhada Beija se levanta e pensa em sair. O clima fica tenso e
um zum-zum-zum ecoa pela capela.
BEIJA (humilde): Padre,
posso me retirar se minha presença é motivo de tanto desconforto...
PADRE: Fique onde está,
minha filha. A casa de Deus é de todos. E os incomodados que se retirem.
IDALINA (cortando): Então é
assim agora, vigário? Os puros e santos têm de ceder seus lugares aos
pecadores, imundos e fornicadores?
PADRE: Não estou dizendo
isso. É a senhora que está me obrigando a tomar atitudes...
IDALINA: Pois bem, Padre
Aranha! Se é assim, estou muito incomodada, sim! E prefiro me retirar.
(virando-se para o público) Eu e todas as senhoras honestas desse arraial.
(conclamando) Vamos, todas as verdadeiras Senhoras da Irmandade de Nossa
Senhora da Abadia que me sigam!
Idalina sai da igreja, e aos poucos todos os presentes vão se
retirando também. Alguns homens hesitam, mas são puxados pelos braços por suas
mulheres. Por fim restam apenas Beija, Severina, o Padre e mais três
prostitutas que estavam sentadas na última fila.
PADRE: Não se aflijam
minhas filhas. Vou acabar de rezar a missa apenas para vocês.
Após a celebração, as prostitutas vêm até a frente beijar a mão
do Padre.
BEIJA (sem graça): Obrigada
meninas, pela companhia.
JOANA: Pra senhora ver,
Dona Beija, o que a gente passa aqui...
CANDINHA: Se a senhora que é
rica e importante tá passando por esse perrengue todo, imagina nós, que somos
pobres e relegadas à sorte...
BEIJA: Que bobagem! Perante
Deus somos todos iguais. O que importa é o nosso coração.
As moças se retiram. Padre Aranha, Beija e Severina caminham até
a sacristia. A mulher forte e determinada não resiste e cai no choro,
compulsivamente.
BEIJA: Ah, Padre! Eu sabia
que seria difícil, mas não imaginava que seria tanto...
PADRE: Força, minha filha
(abraçando-a forte) Você já venceu lutas maiores que esta. Força...
BEIJA: Que humilhação,
Padre... Que humilhação, todos se retiraram da igreja por minha causa... Estou
me sentindo um excremento... Nunca passei por isso na minha vida...
PADRE: Isso é passageiro,
daqui uns dias elas se esquecem disso... Não chore minha querida, não chore.
Deus vai te dar forças...
BEIJA: Ai que
arrependimento de não ter ido para ao Rio de Janeiro. Lá pelo menos ninguém me
conheceria... Não passaria por uma humilhação dessas... (enxugando as lágrimas)
Nisso Antonio Sampaio adentra o recinto.
ANTONIO: Padre eu vim aqui
lhe/ (interrompe, atônito) Beija!
Continua amanhã...
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