No capítulo anterior...
Domitília
pergunta quem teria encomendado sua morte
Chalaça
afirma que a única interessada seria Beija
A
Marquesa promete se vingar da rival
Leopoldina
sofre aborto e perde o bebê que esperava
Domitília
tenta visitar a Imperatriz, mas Paranaguá a impede
O
estado de saúde se agrava e Leopoldina morre
O
Marquês e o casal de embaixadores culpam Domitília
Enfurecido,
o povo tenta invadir a casa da Marquesa para linchá-la
CAP. 211
DOMITÍLIA: Ai, meu Deus! E
agora, o que eu faço?
Do lado de fora as pessoas se aproximam, com gritos e
xingamentos.
HOMEM 1: Vamos matar essa
desgraçada!
HOMEM 2: Maldita! Ela matou
nossa Imperatriz!
Quando vira assustada, Domitília depara-se com o Tenente Moraes,
chefe da guarda pessoal do Imperador.
TEN. MORAES: Venha, Marquesa! Vou
tirá-la daqui.
O militar a puxa pelo braço, com certa rispidez, e saem correndo
em direção aos fundos da propriedade.
A turba raivosa invade a casa, e ao perceber que Domitília não
está, vasculha tudo. Para extravasar sua fúria, destrói tudo que encontra pela
frente: móveis, utensílios, objetos de decoração... Enfim, quase tudo é
danificado.
Corta para o sobrado da Rua do Ouvidor. Beija e Josefa tomam chá
no jardim, sob uma frondosa árvore.
BEIJA: Para lhe dizer a
verdade, não sei onde esse relacionamento com Pedro pode me levar... No começo,
quando ainda era jovem, e ele, solteiro, tinha alguma esperança de que
pudéssemos casar. Mas depois, D. João vetou, disse que para o reino era melhor
que o filho se casasse com alguém da nobreza.
JOSEFA: E Pedro nem tentou
impor sua vontade? Simplesmente aceitou?
BEIJA: Você não conhece
Pedro... Tentou, tentou muito, mas D. João permaneceu irredutível, sem ceder um
milímetro. Quem morria de amores por mim, pasme, era D. Carlota Joaquina. Todo
mundo diz que é louca, destrambelhada, mas é uma criatura adorável. E fazia o
maior gosto no meu casamento com Pedro...
JOSEFA: Incrível! Conquistou
D. Carlota que é tida como louca, insensata e tudo que tem de ruim e não
sensibilizou D. João que é elogiado como sensato, ponderado... Inacreditável
isso...
BEIJA: Sabe, se lhe disser
que nunca sonhei em ser a imperatriz do Brasil, estaria mentindo. Claro que já
me passou pela cabeça... Acho que passa pela cabeça de qualquer uma que se
aproxima do Imperador. E nós vivemos uma longa história de amor. Mas hoje, nas
reais circunstâncias, vejo essa possibilidade como tão remota...
JOSEFA: Seria isso mesmo,
Beija, não está tentando se enganar?
BEIJA: Para você, minha
amiga de tantos anos, posso confessar: sim, no fundo ainda sonho em ser a
imperatriz do Brasil. Afinal de contas foi por esse motivo que vim para o Rio
de Janeiro. Mas, depois de tudo que aconteceu, acho difícil. Estou sem
esperanças.
JOSEFA: Mas não é para os
seus braços que Pedro volta depois de todas as crises?
BEIJA: Volta para meus
braços até se curar. Depois se atira na cama de qualquer uma que lhe dê
confiança. Pedro é um “galinha” incorrigível. E vai ser assim a vida inteira.
Quem quiser conviver com ele terá de aceitar isso, ou simplesmente não
conseguirá conviver.
JOSEFA: Se esse é seu
desejo, se tornar a imperatriz do Brasil, vá em frente, amiga. Lute por seu
sonho. Afinal, Pedro agora está viúvo e em breve terá de se casar de novo...
BEIJA: E Domitília, o que
eu faço com ela? Já está vigiando esse posto de imperatriz como uma tigresa
parida.
Sala do sobrado do Estácio de Sá.
TEN. MORAES: Fique tranquila,
Marquesa, aqui estaremos em segurança por algum tempo. Ninguém sabe de sua
presença aqui.
DOMITÍLIA: Não sei o que seria
de mim se não tivesse aparecido naquele momento. Não sei do que aquela multidão
seria capaz. Você salvou a minha vida. Eu nem sei como agradecê-lo.
TEN. MORAES: Não precisa,
Marquesa. (e olha fixamente no fundo dos seus olhos)
De súbito, Moraes a puxa contra si e a beija com paixão.
Domitília reluta, mas logo em seguida se entrega ao prazer daquele beijo.
Nesse instante Chalaça adentra a sala e presencia a cena,
boquiaberto.
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