13 de jul. de 2012

Encontro do Século - CAP. 209



No capítulo anterior...
Leopoldina avisa que irá embora do palácio
Pedro diz que não permitirá que leve seus filhos
Leopoldina desabafa e lhe faz vários insultos
Pedro perde a cabeça e a espanca com violência
Josefa visita Beija e traz notícias de Araxá
O início da guerra na Cisplatina exige a presença do Imperador
Pedro entra no quarto e pede para falar com Leopoldina

CAP. 209

LEOPOLDINA: Se veio acabar de me matar, faça logo o serviço, pois não quero sofrer mais.
PEDRO: Não é nada disso. Sei que o que fiz não tem explicação. Perdi a cabeça e me transformei num verdadeiro monstro. Vim aqui para pedir que me perdoe.
LEOPOLDINA: Por mim está tudo bem. O pior já passou. Mas se está mesmo arrependido, faça um exame de consciência. Tente se colocar no meu lugar para ver se não me dá um pouco de razão.
PEDRO (sentando nos pés da cama): Farei isso sim. Apesar de estar indo para uma guerra, terei certo tempo para refletir sobre tudo isso. A situação na Província Cisplatina se agravou em muito e os generais exigem a minha presença. Partirei hoje mesmo. E não gostaria de viajar sem antes obter o seu perdão.
LEOPOLDINA: Por mim está perdoado. Reze um pouco para que Deus o perdoe também. Viaje em paz. Que Nosso Senhor o abençoe.
PEDRO: Admiro muito sua humildade e abnegação. Eu no seu lugar não teria tanta compaixão. É uma grande mulher, Leopoldina. Sou-lhe muito grato pelos filhos maravilhosos que me deu. Pela boa esposa que é. Dedicada, sensata, ponderada.
LEOPOLDINA: Mas nada disso parece ter importância, não é mesmo? Porque apesar de tudo, é atrás delas que você corre. É Beija, é Domitília, e tantas outras que nem sei seus nomes...
PEDRO: Queria que entendesse que não tenho culpa por essa índole que tenho, por essa atração que sinto por tudo que vista saia... Já lutei muito contra isso, mas é mais forte que eu.
LEOPOLDINA: Admiro muito a postura de Beija. Na verdade é uma prostituta, dona de um bordel, apesar de seu título de Viscondessa. Mas não corre atrás do marido de ninguém. Fica lá, no seu canto. Eles é que vão atrás dela. Já Domitília, esta sim, é ordinária. Está debaixo do meu teto assediando o meu marido. Falta pouco me expulsar da minha própria casa para usurpar o meu lugar.
PEDRO: Esqueça Beija, esqueça Domitília. Vim aqui para falar de nós.
LEOPOLDINA: Talvez não tenha sido uma boa amante, como elas são...
PEDRO: Não tens culpa de nada. A culpa é dessa tradição, de contratar um casamento sem que as pessoas ao menos se conheçam... Essa maldita obsessão pelo poder, pelo sangue puro, pelos títulos de nobreza... Tolice, pura tolice! Não tens culpa de nada. É apenas uma vítima de tudo isso como também sou. Agora preciso ir.
LEOPOLDINA: Mande notícias assim que puder. Apesar de tudo é o pai dos meus filhos e o considero bastante. Ainda tenho esperanças de que um dia possamos formar uma família realmente feliz.
PEDRO: Vou refletir muito nessa viagem. Quero voltar um novo homem. Perdoe-me por tudo, minha querida. E que Deus a proteja na minha ausência.

Pedro beija a esposa no rosto, com carinho, e se afasta lentamente. Ele para e a contempla por longos segundos, arrependido de tudo que fez. Depois encosta a porta.

Nos jardins do palácio...

DOMITÍLIA: Gosto muito de conversar com você. Sabe que lhe tenho na mais elevada estima. Tanto que é um dos poucos amigos que tenho aqui na Corte.
CHALAÇA: E eu não sei disso? A Marquesa pode estar certa de que a recíproca é verdadeira. Também a tenho na mais alta estima e consideração.
DOMITÍLIA: Sei que é a pessoa mais bem informada nesse palácio, sabe de tudo que se passa com todos. Alguém contratou um capataz para me matar. Agora me diga: quem poderia estar interessado na minha morte?
CHALAÇA: Pois eu lhe respondo: se alguém tem interesse em se livrar da senhora, esse alguém é Beija!

Continua amanhã...

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