No capítulo anterior...
Leopoldina
avisa que irá embora do palácio
Pedro
diz que não permitirá que leve seus filhos
Leopoldina
desabafa e lhe faz vários insultos
Pedro
perde a cabeça e a espanca com violência
Josefa
visita Beija e traz notícias de Araxá
O
início da guerra na Cisplatina exige a presença do Imperador
Pedro
entra no quarto e pede para falar com Leopoldina
CAP. 209
LEOPOLDINA: Se veio acabar de me
matar, faça logo o serviço, pois não quero sofrer mais.
PEDRO: Não é nada disso. Sei
que o que fiz não tem explicação. Perdi a cabeça e me transformei num
verdadeiro monstro. Vim aqui para pedir que me perdoe.
LEOPOLDINA: Por mim está tudo
bem. O pior já passou. Mas se está mesmo arrependido, faça um exame de
consciência. Tente se colocar no meu lugar para ver se não me dá um pouco de
razão.
PEDRO (sentando nos pés da
cama): Farei isso sim. Apesar de estar indo para uma guerra, terei certo tempo
para refletir sobre tudo isso. A situação na Província Cisplatina se agravou em
muito e os generais exigem a minha presença. Partirei hoje mesmo. E não
gostaria de viajar sem antes obter o seu perdão.
LEOPOLDINA: Por mim está
perdoado. Reze um pouco para que Deus o perdoe também. Viaje em paz. Que Nosso
Senhor o abençoe.
PEDRO: Admiro muito sua humildade
e abnegação. Eu no seu lugar não teria tanta compaixão. É uma grande mulher,
Leopoldina. Sou-lhe muito grato pelos filhos maravilhosos que me deu. Pela boa
esposa que é. Dedicada, sensata, ponderada.
LEOPOLDINA: Mas nada disso
parece ter importância, não é mesmo? Porque apesar de tudo, é atrás delas que
você corre. É Beija, é Domitília, e tantas outras que nem sei seus nomes...
PEDRO: Queria que
entendesse que não tenho culpa por essa índole que tenho, por essa atração que
sinto por tudo que vista saia... Já lutei muito contra isso, mas é mais forte
que eu.
LEOPOLDINA: Admiro muito a
postura de Beija. Na verdade é uma prostituta, dona de um bordel, apesar de seu
título de Viscondessa. Mas não corre atrás do marido de ninguém. Fica lá, no
seu canto. Eles é que vão atrás dela. Já Domitília, esta sim, é ordinária. Está
debaixo do meu teto assediando o meu marido. Falta pouco me expulsar da minha
própria casa para usurpar o meu lugar.
PEDRO: Esqueça Beija,
esqueça Domitília. Vim aqui para falar de nós.
LEOPOLDINA: Talvez não tenha
sido uma boa amante, como elas são...
PEDRO: Não tens culpa de
nada. A culpa é dessa tradição, de contratar um casamento sem que as pessoas ao
menos se conheçam... Essa maldita obsessão pelo poder, pelo sangue puro, pelos
títulos de nobreza... Tolice, pura tolice! Não tens culpa de nada. É apenas uma
vítima de tudo isso como também sou. Agora preciso ir.
LEOPOLDINA: Mande notícias assim
que puder. Apesar de tudo é o pai dos meus filhos e o considero bastante. Ainda
tenho esperanças de que um dia possamos formar uma família realmente feliz.
PEDRO: Vou refletir muito
nessa viagem. Quero voltar um novo homem. Perdoe-me por tudo, minha querida. E
que Deus a proteja na minha ausência.
Pedro beija a esposa no rosto, com carinho, e se afasta
lentamente. Ele para e a contempla por longos segundos, arrependido de tudo que
fez. Depois encosta a porta.
Nos jardins do palácio...
DOMITÍLIA: Gosto muito de
conversar com você. Sabe que lhe tenho na mais elevada estima. Tanto que é um
dos poucos amigos que tenho aqui na Corte.
CHALAÇA: E eu não sei disso?
A Marquesa pode estar certa de que a recíproca é verdadeira. Também a tenho na
mais alta estima e consideração.
DOMITÍLIA: Sei que é a pessoa
mais bem informada nesse palácio, sabe de tudo que se passa com todos. Alguém
contratou um capataz para me matar. Agora me diga: quem poderia estar
interessado na minha morte?
CHALAÇA: Pois eu lhe
respondo: se alguém tem interesse em se livrar da senhora, esse alguém é Beija!
Continua amanhã...
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