No capítulo
anterior...
- Beija acredita que
Motta a levará para a Corte
- Padre Melo Franco
tenta convencê-la a voltar para Araxá
- Beija ordena ao
padre que venda suas propriedades
CAP. 3
O
Ouvidor promove um grande jantar de despedida no palacete. Beija se apronta no
quarto.
SEVERINA: A sinhá está linda como nunca, parece uma daquelas damas
das porcelanas francesas...
BEIJA: Quero estar linda mesmo, Severina, porque nesse jantar
certamente o Motta comunicará a nossa ida para o Rio de Janeiro.
SEVERINA: Fico alegre pela Sinhá, mas triste porque não poderei ir
junto...
BEIJA (interrompendo a colocação da tiara de diamantes): Como
assim, Severina? É claro que você irá também! Eu jamais partiria para qualquer
lugar que fosse sem levar minha fiel escrava... Aliás, você é muito mais amiga
que escrava... Você é como se fosse os meus olhos, afinal sou analfabeta e é
você que lê tudo para mim...
Severina
se emociona, Beija a abraça.
SEVERINA: Só de pensar que a Sinhá poderia partir, me dá um aperto
no coração.
BEIJA: Fique tranquila, sua boba. Não irei a lugar nenhum sem
você. E agora me ajude a terminar porque os convidados já devem estar chegando.
No
escritório, a portas fechadas...
MOTTA: E então, padre Melo Franco, como foi a conversa com
Beija?
PADRE: Ela está deslumbrada com a possibilidade de conhecer a Corte.
Fala muito em conhecer o mar, nos bailes da Corte, enfim, está mais sonhadora
que alerta para a dura realidade que poderá enfrentar lá.
MOTTA: Eu sei, também tive várias conversas com ela e tive a
mesma impressão.
PADRE: Não é porque o Senhor Ouvidor me pediu, mas é porque
realmente acredito que o melhor para Beija seja voltar para Araxá...
MOTTA: Também estou certo disso, mas ela insiste no contrário.
PADRE: Com a fama de “Moça do Ouvidor” se tornou uma mulher
respeitada e depois, todos creditam a ela a reintegração do Triângulo Mineiro à
capitania de Minas Gerais. É uma mulher poderosa, influente... Não terá
problemas para se fazer respeitar em Araxá...
MOTTA: Verdade. Embora não tenha sido por atitude direta dela,
mas foi por causa de Beija. Eu fui acusado pela morte de seu avô e se fosse
julgado pelo governador de Goiás, certamente seria condenado, porque aquele
homem me detesta. Por isso intercedi a D. João VI para que passasse o Triângulo
para Minas, porque o governador é meu amigo de infância e nunca me condenaria a
nada, como de fato aconteceu. Sequer fui acusado... (risos sarcásticos)
PADRE: Eu fiz o que pude, Dr. Motta, mas Beija não é fácil...
Tem opinião própria e quando quer, sabe ser tinhosa.
MOTTA (em tom de ameaça): Sei da influência que o senhor
exerce junto a ela. Sei inclusive de suas visitas ao palacete nas altas
madrugadas durante as minhas viagens... Por isso, continue tentando...
PADRE (apurado): Oras, Sr. Ouvidor, isso é coisa do passado...
Não vem ao caso agora...
MOTTA (fitando-o nos olhos): O Padre entendeu muito bem... (tom)
Melhor nos apressarmos, porque pelo barulho, imagino que o salão esteja cheio...
Beija
surge no alto da escada, com um belo vestido verde, uma tiara de diamantes no
cabelo, tão belos quantos seus lindos olhos azuis. Um “oooohhhh” ecoa pelo
ambiente.
Continua
amanhã...
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