15 de nov. de 2011

Encontro do Século - CAP. 2


No capítulo anterior...
- Motta comunica seu retorno ao Rio de Janeiro
- Beija fica furiosa porque quer ir junto, mas o Ouvidor se recusa a levá-la
- Diante de sua insistência, Motta concorda em pensar no assunto

CAP. 2

Beija caminha com Padre Melo Franco (45 anos, magro, simpático), seu confessor, pelas minas de diamante.

BEIJA: Padre, o Motta ficou de pensar com carinho na minha ida para a Corte. E se ele ficou de pensar, tenho certeza que me levará com ele...
PADRE: Não se iluda, minha filha... Não estou seguro de que sua ida para a Corte seja o melhor para você... Veja bem: aqui nas Minas Gerais você é conhecida, rica e famosa como a “moça do ouvidor”. Lá você será apenas mais uma na multidão... Uma desconhecida...
BEIJA: Isso por pouco tempo, Padre. O senhor acha que serei uma desconhecida depois que conhecer o Príncipe Regente?
PADRE: Ah... Então é esse o seu objetivo, conhecer Dom Pedro?
BEIJA: Eu posso me tornar uma rainha... Já pensou: Beija, a rainha do Brasil?
PADRE: Filha, seja realista e menos ingênua: um nobre não se casa com os súditos. Nobres só se casam com outros nobres... Quando chegar o momento, certamente Pedro buscará esposa entre as melhores cortes europeias.
BEIJA (incrédula): Nem se o Príncipe se apaixonar perdidamente por mim?
PADRE: Ainda que se apaixonasse seria praticamente impossível...

Após pequena pausa reflexiva, sentam-se num tronco caído à beira do caminho.

BEIJA (convicta): Ainda assim, quero ir para o Rio de Janeiro. Quero conhecer a Corte, os bailes, o mar... (sonhando) O príncipe, os barões, os marqueses... (séria, voltando à realidade) Não é isso que eu faço aqui, me deitar com homens importantes e ricos em troca de ouro e jóias? Lá os homens são mais ricos e mais importantes...
PADRE: Sim, Beija, mas você quis assim. O Ouvidor sempre a tratou como uma esposa e sempre fez tudo para lhe agradar. Sempre lhe deu tudo do bom e do melhor. Você se deita com outros homens para provocar a ira dele, não por necessidade...
BEIJA (rancorosa): O senhor não imagina o ódio que sinto daquele homem, padre. A minha vingança parece não ter fim. Nada que faço contra ele é suficiente para retribuir todo o mal que me fez: desonrou-me, matou o meu avô, tirou meu noivo, jogou o arraial inteiro contra mim...
PADRE: Minha filha, o perdão é um dom de Deus. Temos que perdoar aqueles que nos causam o mal. Se formos pagar com a mesma moeda nós estaremos nos nivelando com eles e cometendo as mesmas atrocidades. Esqueça tudo o que passou e tente construir sua vida de agora em diante.
BEIJA: O senhor acha que é possível esquecer tudo, assim, de uma hora pra outra?
PADRE: Você não precisa esquecer, mas tome um novo rumo na sua vida, filha...
BEIJA: (empolgada) Então... A Corte seria um ótimo recomeço...
PADRE: Não estou certo disso. Creio que sua melhor alternativa seria voltar para São Domingos dos Arachás. Lá estão as suas raízes, a sua gente, o seu noivo... Quem sabe vocês não reatam o noivado?
BEIJA: Conhecendo Antonio Sampaio como eu conheço, Padre, posso lhe garantir que isso é praticamente impossível...
PADRE: Ainda assim, Beija, suas chances de sucesso em Araxá são bem maiores que no Rio de Janeiro.
BEIJA: Eu sempre ouvi seus conselhos, Padre, mas desta vez vou fazer o que manda o meu coração. Está decidido: quero que venda estas minas e todas as minhas outras terras, porque vou para o Rio de Janeiro.

Continua amanhã...

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