No capítulo anterior...
Sampaio
conta a Ceci sobre a partida de Motta
Antonio
ouve e o pai o proíbe de se aproximar de Beija
O
ouvidor ameaça arrebentar a porta
CAP. 10
Antes que Motta arrebente a porta, Beija abre. Depois caminha
para a janela, dando-lhe as costas.
MOTTA: Precisamos
conversar, Dona Beija.
BEIJA (indiferente): Não
tenho nada para falar como senhor, Dr. Ouvidor.
MOTTA: Temos sim, e muito.
Nós estamos no meio de um processo de separação e muitos detalhes precisam ser
resolvidos.
BEIJA: Decida como quiser.
Não é sempre assim? O senhor toma todas as decisões e aos demais não lhes resta
outra alternativa senão acatar a vontade do senhor Ouvidor?
MOTTA: Pelo visto o que
Padre Melo Franco lhe disse entrou num ouvido e saiu no outro...
Beija se lembra da conversa onde o Padre lhe recomendou que não
desafiasse o Ouvidor, para que não perdesse as benesses financeiras.
BEIJA: Então o senhor quem
mandou o Padre aqui?
MOTTA: Não. Falei com ele
na saída, porque realmente estava preocupado com o seu bem estar.
BEIJA: Entendo...
(voltando-se para Motta, mudando o tom) Está bem. E o que quer discutir comigo?
MOTTA: Em primeiro lugar
precisamos marcar um novo jantar para nossos amigos e os funcionários da
Ouvidoria. E você há de prometer que não fará nenhum escândalo. Nós devemos uma
satisfação a eles. É o mínimo que podemos fazer.
BEIJA: Por mim tudo bem.
Pode marcar. Prometo me comportar.
MOTTA: O segundo aspecto é
com relação à sua ida para o Rio de Janeiro. Vou explicar mais uma vez: não
posso levá-la comigo porque sou casado, tenho uma mulher ciumenta, filhos e não
posso desfilar pela Corte com uma amante embaixo do braço. Sou um político, uma
autoridade. Tenho uma reputação a zelar...
BEIJA: Mas Motta...
MOTTA (interrompendo,
ríspido): Não tem mais, nem menos, Beija! Eu volto para o Rio de Janeiro e você
para São Domingos do Araxá. Está decidido e ponto! Não se fala mais nisso!
Beija ainda pensa em argumentar, mas lembra das palavras de
Padre Melo Franco.
MOTTA: O terceiro aspecto é
o seguinte: se você se comportar direitinho, até a minha partida e não me criar
nenhum problema, lhe darei toda a mobília do palacete. Você não diz que ama
esta casa e a sua decoração?
BEIJA: Sim, é verdade...
MOTTA: Pois bem, você
poderá levar para Araxá toda a mobília do palacete e também os escravos. Mas
para isso terá de me prometer não criar problemas...
BEIJA: Está bem. Negócio
fechado.
MOTTA: E um último pedido: que
convivamos harmonicamente até a minha partida. Quero que passe essas últimas
noites comigo. Sei que é difícil para você, mas gostaria de levar na memória os
bons momentos que vivemos juntos...
Beija fica pensativa e hesita em responder.
Continua amanhã...
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