No capítulo anterior...
Na
igreja de Santo Antonio dos Pobres Beija se defronta com Motta
Mas
antes que tente se aproximar, ela se retira.
Severina
questiona a atitude da patroa
Pedro
conta a Chalaça sua discussão com a amada
Ele se
irrita ao descobrir que Beija exigiu desculpas de Pedro
Severina
atende a porta e Motta procura por sua patroa
CAP. 115
SEVERINA: Um instante, Dr.
Motta, vou avisá-la da sua presença.
BEIJA (se aproximando): Não
precisa, Severina, já estou aqui. (e para Motta, com certo ar de ironia) Bom
dia, Dr. Motta, como vai o senhor Ouvidor?
MOTTA: Estou bem, obrigado.
Não vai me convidar para entrar?
BEIJA: Ah sim, claro.
Entre, por favor, e se assente.
O clima é tenso. Ambos tentam disfarçar a ansiedade. Beija
porque teme ser perseguida na Corte e na sua relação com Pedro. Motta, porque
ainda ama Beija e não suporta a idéia de vê-la nos braços de outro homem.
MOTTA: Beija, qual é o
objetivo dessa sua instalação no Rio de Janeiro?
BEIJA: Aconteceu o que
previa desde o início. Fui enxotada de Araxá como um cão sarnento. Não tive
alternativa. Das poucas opções que tinha, o Rio de Janeiro me pareceu a mais
adequada.
MOTTA: Tem noção dos
problemas que pode me causar aqui?
BEIJA: Sinceramente, não.
MOTTA: Tem consciência de
que pode arruinar a minha vida e a minha carreira?
BEIJA: Sinceramente, não...
MOTTA: Pois é, por isso não
quis lhe trazer pra cá junto comigo. E agora você me aparece aqui, do nada...
(alterando o tom de voz) Eu lhe dei dinheiro, jóias, roupas, móveis, para você
sumir de uma vez por todas da minha vida! Não para você se estabelecer na mesma
cidade que a minha família!
BEIJA (indignada): Ora,
Sr. Motta, faça-me o favor! O senhor se abalou até aqui para me dizer isso?
Para dizer o que devo e o que não devo fazer de minha vida? Meus tempos de
“Moça do Ouvidor” ficaram lá em Paracatu. Aqui sou Dona Beija e eu mesma faço o
meu destino.
MOTTA: Quero que vá embora
daqui. Se minha mulher descobre algo sobre nosso caso, será um escândalo.
BEIJA: Não tenho nada a ver
com sua família... Pouco me importa como vão reagir sua mulher e seus filhos ao
descobrirem que você era dado a aventuras amorosas fora do casamento. Isso é um
problema seu!
MOTTA: Você me deve
respeito e gratidão, Beija! Eu fiz de você a mulher você é hoje.
BEIJA: Só me faltava essa!
Fazer-me cobranças! Você, sim, é que arruinou a minha vida. Matou meu avô, me
tirou dos braços do homem que amava. Arrastou meu nome na lama perante um
arraial inteiro. E agora que estou começando a reconstruir minha vida, vem me
exigir que vá embora? Ficou louco, Dr. Motta?
MOTTA: Seja sensata. É o
melhor para nós dois. Ponha a mão na consciência.
BEIJA: Não sei porque tanto
te preocupa com isso. Ninguém saberá de nada se você não abrir a boca. Eu não
tenho a menor intenção de falar sobre o passado em Paracatu para ninguém. Você
tem?
MOTTA: Não, Beija, mas sabe
como são essas coisas... Uma hora ou outra alguma coisa sempre escapa e não
quero correr riscos. Não quero ter meu nome enxovalhado perante a Corte.
BEIJA (cínica): Sua
preocupação é mesmo essa, Motta? Ou seria o fato de eu estar tendo um caso com
D. Pedro?
Continua amanhã...
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