20 de mar. de 2012

Encontro do Século - CAP. 110



No capítulo anterior...
Pedro adentra a sala e flagra João e Beija abraçados
O casal tenta se explicar, mas ele fica furioso
João tenta argumentar, mas é expulso pelo Príncipe
Irado, Pedro ameaça se retirar caso João não o faça
Beija pergunta o porquê de toda aquela fúria

CAP. 110

BEIJA: Pedro, até onde sei é um homem educadíssimo, civilizado, acostumado aos rituais da Corte. O que houve para lhe despertar tamanha fúria?
PEDRO: Sou de carne e osso, Beija. Chego aqui e a encontro agarrada com aquele outro. Queria o quê? Já lhe disse que não tenho vocação para corno manso.
BEIJA: Mas antes de despejar toda a sua ira, deveria ter pelo menos tentado entender o que estava acontecendo.
PEDRO (convicto): Pra estas coisas não é preciso entender muito... São tão claras...
BEIJA: Nem tudo é o que parece... Você se equivocou e muito.
PEDRO: Está querendo dizer que não a vi abraçada com aquele camarada?
BEIJA: Não. Realmente estava abraçada, mas o motivo do abraço é que não era o que você está pensado.
PEDRO (irônico): Ah... Não? Então era o quê?
BEIJA: Estávamos felizes, porque fui capaz de ler a carta que D. Josefa, mãe de João, havia escrito. Não havia nada demais naquilo...
PEDRO: Então conhece esta família?
BEIJA: Desde sempre. Conheço desde os meus quatro anos de idade. Fui criada junto com João até que saiu de Araxá para estudar aqui no Rio de Janeiro. Percebe agora a burrada que fez?
PEDRO (inconformado): Nem tanto. Não vem com essa conversa, não! Percebo muito bem a maneira que olha para você. Aquele homem é perdidamente apaixonado por você, Beija! Será que não percebe isso?
BEIJA: Sim, sei muito bem disso. João é apaixonado por mim desde os tempos do Catecismo de Padre Aranha. E quando nos reencontramos no Rio, uma pequena chama de sentimento voltou a se acender.
PEDRO: Então tenho minha parcela de razão...
BEIJA: Não! Porque nossos sentimentos são bem separados. Quando conheci você, tive uma conversa séria com João e avisei-lhe que deveria se afastar de mim. Desde então tem se portado como um cavalheiro e nunca me faltou com o respeito.
PEDRO (ainda desconfiado): Beija, você é tão ingênua... Se está perto de você, é porque no fundo ainda alimenta alguma esperança de reconquistá-la...
BEIJA: O único motivo da nossa comemoração foi o fato da leitura da carta. João sabia desde sempre que eu era analfabeta e sempre insistiu para que aprendesse a ler. Ficou maravilhado quando ouviu minha leitura. E nos abraçamos para comemorar. Foi só isso! (pausa - ela começa a chorar) Será, meu Deus, que uma coisa tão sublime quanto a leitura, só serviu para me causar problemas? Melhor teria sido continuar analfabeta...
PEDRO (comovido): Agora entendo, minha querida. Estou tão envergonhado por esse equívoco. Perdoe-me. Fui tomado pelo ciúme, perdi a cabeça e fui grosseiro. Perdoe-me.
BEIJA (limpando as lágrimas): Perdôo. Perdôo sim. Mas com uma condição: você terá de pedir desculpas a João também.

Continua amanhã...

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