No capítulo anterior...
Pedro
adentra a sala e flagra João e Beija abraçados
O casal
tenta se explicar, mas ele fica furioso
João
tenta argumentar, mas é expulso pelo Príncipe
Irado,
Pedro ameaça se retirar caso João não o faça
Beija
pergunta o porquê de toda aquela fúria
CAP. 110
BEIJA: Pedro, até onde sei
é um homem educadíssimo, civilizado, acostumado aos rituais da Corte. O que
houve para lhe despertar tamanha fúria?
PEDRO: Sou de carne e osso,
Beija. Chego aqui e a encontro agarrada com aquele outro. Queria o quê? Já lhe
disse que não tenho vocação para corno manso.
BEIJA: Mas antes de
despejar toda a sua ira, deveria ter pelo menos tentado entender o que estava
acontecendo.
PEDRO (convicto): Pra
estas coisas não é preciso entender muito... São tão claras...
BEIJA: Nem tudo é o que
parece... Você se equivocou e muito.
PEDRO: Está querendo dizer
que não a vi abraçada com aquele camarada?
BEIJA: Não. Realmente
estava abraçada, mas o motivo do abraço é que não era o que você está pensado.
PEDRO (irônico): Ah...
Não? Então era o quê?
BEIJA: Estávamos felizes,
porque fui capaz de ler a carta que D. Josefa, mãe de João, havia escrito. Não
havia nada demais naquilo...
PEDRO: Então conhece esta
família?
BEIJA: Desde sempre.
Conheço desde os meus quatro anos de idade. Fui criada junto com João até que
saiu de Araxá para estudar aqui no Rio de Janeiro. Percebe agora a burrada que
fez?
PEDRO (inconformado): Nem
tanto. Não vem com essa conversa, não! Percebo muito bem a maneira que olha
para você. Aquele homem é perdidamente apaixonado por você, Beija! Será que não
percebe isso?
BEIJA: Sim, sei muito bem
disso. João é apaixonado por mim desde os tempos do Catecismo de Padre Aranha.
E quando nos reencontramos no Rio, uma pequena chama de sentimento voltou a se
acender.
PEDRO: Então tenho minha
parcela de razão...
BEIJA: Não! Porque nossos
sentimentos são bem separados. Quando conheci você, tive uma conversa séria com
João e avisei-lhe que deveria se afastar de mim. Desde então tem se portado
como um cavalheiro e nunca me faltou com o respeito.
PEDRO (ainda desconfiado):
Beija, você é tão ingênua... Se está perto de você, é porque no fundo ainda
alimenta alguma esperança de reconquistá-la...
BEIJA: O único motivo da
nossa comemoração foi o fato da leitura da carta. João sabia desde sempre que
eu era analfabeta e sempre insistiu para que aprendesse a ler. Ficou
maravilhado quando ouviu minha leitura. E nos abraçamos para comemorar. Foi só
isso! (pausa - ela começa a chorar) Será, meu Deus, que uma coisa tão sublime
quanto a leitura, só serviu para me causar problemas? Melhor teria sido
continuar analfabeta...
PEDRO (comovido): Agora
entendo, minha querida. Estou tão envergonhado por esse equívoco. Perdoe-me.
Fui tomado pelo ciúme, perdi a cabeça e fui grosseiro. Perdoe-me.
BEIJA (limpando as
lágrimas): Perdôo. Perdôo sim. Mas com uma condição: você terá de pedir
desculpas a João também.
Continua amanhã...
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