No capítulo anterior...
Pedro
diz a Chalaça que está feliz com Beija
E que
não pretende se casar com nenhuma nobre européia
Perdizes
revela a Motta que conhece Beija
O
Ouvidor fica surpreso, mas compreende o amigo
Perdizes
pergunta se Motta pretende procurar Beija
CAP 107
MOTTA: Sim, pretendo
procurar Beija e obrigá-la a voltar para o lugar de onde nunca deveria ter
saído.
PERDIZES: Mas acredita que ela
o obedecerá, assim, pacificamente?
MOTTA: Não se preocupe,
tenho os meus trunfos.
PERDIZES: Isso é mesmo
necessário, mandá-la embora de vez? Porque se sente tão ameaçado por sua
presença?
MOTTA: Com Beija vivendo no
Rio de Janeiro, uma hora ou outra o passado virá à tona, a história do nosso
caso chegará aos ouvidos de Veridiana, dos meus filhos... Será um escândalo
imenso. A minha família se partirá em pedaços... Sou um homem público e preciso dessa
aparência para ser respeitado.
PERDIZES (desconfiado): É só
isso mesmo, Motta, ou tem mais algum motivo?
MOTTA: Por horas o motivo é
só esse: preservar minha família e a mim mesmo.
Perdizes não se dá por convencido. Acredita que existe algum
outro motivo que Motta não quis revelar.
Nos jardins do sobrado, Severina colhe flores para enfeitar a
casa enquanto Beija sugere quais deverão ser colhidas.
SEVERINA: Sinhô João passou
aqui ontem...
BEIJA: Queria algo em
especial ou apenas uma visita de cortesia?
SEVERINA: Disse que recebeu
uma carta de D. Josefa e que gostaria de ler para a Sinhá.
BEIJA: Verdade? Que notícia
boa!
SEVERINA: Pareceu muito
empolgado com a notícia, mas não quis comentar o que dizia a carta. Disse que
passa outra hora.
BEIJA (nostálgica): Sabe,
às vezes sinto falta daquela gente de Araxá... D. Josefa, Fortunato, Padre
Aranha, Belegarde... Os amigos de verdade. Embora aquele lugar tenha se
transformado num covil de leões, ainda existe lá muita gente boa, pura,
sincera, amiga de coração, gente com quem se pode contar.
SEVERINA: Também gostava de
Araxá. É um lugar agradável de se viver. Mas a Sinhá deve se lembrar que agora
vivemos no Rio de Janeiro e nossa realidade é outra...
BEIJA (falsamente
indignada): Está bem, Severina. Obrigado por me despertar do meu momento
nostalgia. Nem a isso tenho mais direito. Um instante em que sonho e relembro
meus queridos amigos, você me puxa pelo pé e me atira na realidade de volta.
Obrigado.
SEVERINA: Desculpe Sinhá, não
era essa a minha intenção...
Beija fixa o olhar no horizonte, com o pensamento distante.
BEIJA (para si mesma): João
terá uma grande surpresa quando voltar aqui...
Continua amanhã...
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