31 de mar. de 2012

Encontro do Século - CAP. 120



No capítulo anterior...
Pedro diz que tem importante convite para fazer a Beija
Ele revela que a apresentará à Corte num baile
Beija fica eufórica e até esquece de Motta escondido na sala
O casal muda de ambiente e Severina retira o Ouvidor do recinto
Beija pede ao Visconde de Perdizes que lhe sirva de álibi
O Visconde revela que sabe tudo sobre seu caso com Motta

CAP. 120

BEIJA (admirada): Sabe, como assim?
PERDIZES: Motta é meu amigo há muitos e muitos anos. Abriu-se comigo e revelou tudo o que viveram em Paracatu do Príncipe.
BEIJA: Mas evitei vir ao baile justamente para não defrontar com Motta. Como ele soube da minha presença no Rio de Janeiro?
PERDIZES: D. Pedro fez um comentário. Sem segundas intenções, é claro. O que não imaginava é que você e Motta eram velhos conhecidos...
BEIJA: Meu Deus, como esse mundinho é pequeno! (pausa) Motta deve ter lhe falado coisas horríveis a meu respeito...
MOTTA: Algumas boas, outras nem tanto. Mas de qualquer forma, minha querida, sou de opinião que toda moeda tem dois lados. Já ouvi a versão de Motta e agora quero ouvir a sua, para somente depois formar uma opinião.
BEIJA: Muito sábio de sua parte. Está disposto a me ouvir agora?
PERDIZES: Sim, claro. Pode começar...

Beija relata toda a sua história, desde a visita do Ouvidor ao Arraial de São Domingos dos Araxás, passando pelo rapto, os dois anos em Paracatu, os meses em Araxá, até a chegada ao Rio de Janeiro. Perdizes ouve com atenção.

Corta para o dia do baile na Corte

Beija se deslumbra desde a chegada aos belos jardins da Quinta da Boa Vista. Tudo a impressiona: o tamanho, a beleza, a grandiosidade do palácio, todo iluminado com tochas.

BEIJA: Meu Deus! Como é lindo!

Pedro vem ao seu encontro ainda no estacionamento das carruagens e a conduz ao interior.

Surpresa maior tem ao adentrar o imenso salão, de braços dados com o Príncipe. O recinto está repleto de títulos de nobreza.

BEIJA: Pedro, estou extasiada...
PEDRO: Vê todos esses nobres? São viscondes, marqueses, barões e suas famílias. Pois bem, todos eles ainda comerão em suas mãos...

O casal atravessa todo o salão sob os olhares admirados de todos, principalmente das senhoras e das moçoilas que sonham desesperadamente em conquistar o Príncipe.

Pedro faz sinal para o maestro, pedindo que interrompa a música.

PEDRO: Senhoras, senhores, não quero tomar muito do seu tempo. Permita-me apresentar-lhes a mais nova dama do Rio de Janeiro, Ana Jacinta de São José, mais conhecida como Dona Beija.

Continua segunda-feira...

30 de mar. de 2012

Encontro do Século - CAP. 119



No capítulo anterior...
Pedro bate à porta deixando Beija apreensiva
Motta se esconde atrás de uma cortina da sala
Beija tenta fingir naturalidade, mas Pedro percebe seu nervosismo
Ela vai até a cozinha e pede a ajuda de Severina
Beija convida o Príncipe para um café na sala de jantar
Mas Pedro diz que tem um convite importante para lhe fazer

CAP. 119

PEDRO: Sim, é algo importante. Quero lhe convidar para um baile nos salões da Quinta da Boa Vista. Vou lhe apresentar oficialmente à Corte.
BEIJA (eufórica): Jura? Não acredito que vá me dar este presente...
PEDRO: Pois acredite, meu amor. E será no próximo sábado. Prepare-se. (mudando o tom) Só não posso lhe apresentar como a minha amada. Creio que entenda.
BEIJA: Sim, claro. Mas só pela oportunidade de freqüentar os famosos salões da Corte, tenho certeza de que valerá muito a pena.
PEDRO: Meu desejo é vê-la sempre feliz. Tudo que puder fazer para deixá-la assim, esteja certa de que farei.
BEIJA: Oh, meu amor! Só você mesmo, para me deixar nas nuvens assim... (se beijam apaixonados)

O incidente com João parece plenamente superado.

PEDRO: E para provar o quanto lhe estimo, quero que convide o seu amigo, o Sr. João Carneiro de Mendonça. Também será muito bem vindo em nossa recepção.
BEIJA: Pedro, Pedro, você é um homem que não existe... Às vezes fico pensando que isso tudo é um sonho e em algum momento vou acordar e me decepcionar com a realidade...
PEDRO: Pois se depender de mim, não acordará nunca... Sua vida será sempre um sonho...

Beijam-se com carinho. Por instantes Beija esquece o problema que tem na sala, escondido atrás da cortina. Ela sorri feliz, com uma pureza vinda da alma.

PEDRO: Bem, mas agora vamos, antes que o café de Flaviana esfrie...

Assim que o casal se acomoda na mesa de jantar, Severina rapidamente se dirige para a sala e dá cobertura para que o Ouvidor Motta saia sem ser visto.

Na manhã seguinte Beija toma um chá com seu amigo, o Visconde de Perdizes.

BEIJA: Meu amigo, ontem involuntariamente o envolvi numa história minha. E não posso correr o risco de passar por mentirosa, por isso vim lhe pedir um favor.
PERDIZES: Claro, Beija, quantos quiser...
BEIJA: Pedro esteve na minha casa e eu havia recebido uma visita da qual não poderia tomar conhecimento. Quando me perguntou quem havia estado comigo, o único nome que me veio à memória foi o seu.
PERDIZES: Sim, mas não há problema nenhum nisso... Se resolveu o seu problema...
BEIJA: Mais que isso. Queria lhe pedir que confirmasse a história, caso Pedro pergunte alguma coisa.
PERDIZES: Você estava com o Ouvidor Motta, não é isso?
BEIJA: Como soube?
PERDIZES: Eu sei tudo sobre a sua história com Motta.

Beija se assusta.

Continua amanhã...

29 de mar. de 2012

Encontro do Século - CAP. 118



No capítulo anterior...
Pedro diz a Chalaça que vai surpreender Beija
Ele fica curioso, mas o Príncipe nada revela
Motta exige que a ex-amante deixe o Rio de Janeiro
Beija ameaça recorrer a Pedro caso o Ouvidor insista
Pedro bate à porta e Beija fica apreensiva

CAP. 118

Antes que as escravas se aproximem, Beija mesma abre a porta e se surpreende com a presença de Pedro.

BEIJA: Oi, meu amor, tudo bem? (se beijam) Entre...
PEDRO: Surpresa com minha presença?
BEIJA: Sim... Quer dizer, não... Só não o esperava agora, nesse momento...
PEDRO: Estava louco de saudades e... Depois daquele pequeno atrito, não via a hora de lhe falar...
BEIJA: Esqueça. Ventos passados não movem moinhos... Não é assim que todos dizem?
PEDRO: Trouxe isto para você. (e lhe entrega um pequeno ramalhete de flores) Colhidas lá mesmo, nos jardins do palácio.

Beija agradece com um abraço e até esboça um sorriso, mas no fundo está muito tensa. Motta está escondido atrás de uma cortina de veludo, bem no canto da sala.

PEDRO: Você me parece tensa, meu amor. Está preocupada com alguma coisa?
BEIJA: Não, nada... Dê-me licença por um instante. Vou à cozinha apanhar um vaso para colocar as flores. São tão lindas...

Apressada a moça caminha até a cozinha à procura de sua mucama. Sussurra algo em seu ouvido.

BEIJA: Vou despistar Pedro e você dê um jeito de sumir com Motta, pelo amor de Deus! Mas cuidado para que ele não perceba nada.
SEVERINA: Sinhá, mas e os guardas lá fora?
BEIJA: Dê um jeito. Pelo amor de Deus, suma com esse homem daqui!
SEVERINA: Nhá sim.

Beija volta com um vaso e acomoda as flores. Pedro percebe uma bandeja com restos de café sobre a mesa de centro.

PEDRO: Estava com visitas em casa?
BEIJA: Visitas? (improvisa) Ah sim... O Visconde de Perdizes. Acabou de sair daqui. Não esbarrou com ele aí pela calçada?
PEDRO: Não vi ninguém conhecido.
BEIJA: Veio convidar-me para mais um de seus saraus. (pausa) Vamos para a sala de jantar? Flaviana acabou de servir o café.
PEDRO: Posso sentir daqui o cheiro de café fresquinho, mas aguarde um instante. Tenho algo para lhe dizer.

O príncipe abraça forte e demoradamente sua amada, todo carinhoso. Respira fundo.

PEDRO: O motivo de minha presença aqui é um convite.
BEIJA: Huumm... A julgar por sua voz empostada deve ser algo importante.

Continua amanhã...

28 de mar. de 2012

Encontro do Século - CAP. 117



No capítulo anterior...
Beija questiona se o verdadeiro motivo de Motta não é o ciúme
Ele não responde e a acusa de ter prazer no sofrimento dos homens
Beija diz que Motta a transformou numa pessoa cruel
A discussão continua e não leva a nenhuma conclusão
Chalaça questiona Pedro sobre se envolvimento com Beija
Pedro reafirma sua paixão e diz que vai surpreender a amada

CAP. 117

Chalaça bem que tenta extrair alguma informação sobre a tal surpresa, mas Pedro não dá nenhuma pista.

PEDRO: Ora, Chalaça, curiosidade é uma virtude feminina...
CHALAÇA: Não, é que, do jeito que falou, fiquei imaginando mil coisas...
PEDRO: Pois não imagine nada, apenas aguarde.

Pedro se diverte com a situação, enquanto Chalaça demonstra frustração por não ter saciado sua curiosidade.

Enquanto isso continua a discussão...

MOTTA: Você deveria acatar a minha sugestão porque é o melhor para nós dois.
BEIJA (irônica): O melhor para você, está querendo dizer, não é mesmo, Ouvidor Motta? (séria) Só que os seus dias de Ouvidor terminaram... E os meus de “Moça do Ouvidor” também. Hoje sou uma mulher livre, faço o que tenho vontade, compreende?
MOTTA: Perfeitamente. Mas já que não quer compreender-me, não terei alternativa que não obrigá-la a ir embora.
BEIJA: Obrigar-me, Motta? Como? À chibatadas? Não, Dr. Motta, eu não sou uma negra fujona. Não tenho senhor. E se quer saber, tenho alguém que zela por mim. Caso o senhor insista nesta perseguição, não hesitarei em recorrer a D. Pedro. Aí sim, tudo que o senhor teme vir à público, poderá vir de uma maneira muito mais rápida do que imagina...

Motta anda de um lado para outro, inconformado.

Na cozinha, as escravas cuidam dos afazeres, mas com o ouvido ligado na conversa da patroa.

FLAVIANA: Que será que o Sinhô Motta tá fazendo aqui?
SEVERINA: Eu não faço a menor idéia, mas coisa boa para a Sinhá não dever ser... O Ouvidor não queria que ela viesse para o Rio de Janeiro de jeito nenhum.
FLAVIANA: E porque a Sinhá teimou e veio?
SEVERINA: Porque ele não manda mais em Dona Beija. Não é o dono dela. Depois de tudo que o Dr. Motta lhe fez, a Sinhá tinha o direito de recomeçar sua vida.
FLAVIANA: Eu ouvi. Veio mandá a Sinhá ir embora da cidade. Hôme casado é assim: eles qué vivê no desfrute, mas nunca qué que as esposa fique sabendo...
SEVERINA: Se for isso, espero que Dona Beija seja forte e resista.

Corta para a sala. Bate à porta. (instantes) Bate novamente.

Beija fica apreensiva.

Continua amanhã...