No capítulo anterior...
Pedro
dá a entender que pretende se casar com Beija
Beija
evita alimentar expectativas
O casal
se dirige aos anfitriões da noite
D. João
elogia a beleza de Beija
D.
Carlota a convida para ser sua “Dama de Companhia”
CAP. 124
PEDRO: Por oras acho um
tanto precipitado, mamãe. Beija e eu conversaremos mais a respeito. Depois.
Pode ser?
BEIJA: Sim, claro.
D. CARLOTA: Não vais envenenar a
rapariga contra mim, Pedro!
PEDRO: Eu não disse? Mamãe
às vezes exagera... (e para beija) Vamos dançar, minha querida?
BEIJA: Com Vossa licença,
Majestade.
D. JOÃO: Vá filha, vá se
divertir um pouco. A noite é uma criança...
O casal se dirige a uma janela, onde um cavalheiro solitário
sorve uma taça de vinho enquanto aprecia a vista.
PEDRO: João Carneiro, posso
lhe falar um instante?
JOÃO: É claro, Alteza.
Esteja à vontade.
PEDRO: Quero lhe pedir
desculpas por aquele dia na casa de Beija. Sei que não foi muito gentil da
minha parte. Não sabia que se conheciam desde crianças. Desculpe-me.
JOÃO: Não há o que
desculpar, Alteza.
PEDRO: Mas sei que nutre
algum sentimento por Beija e quero que a respeite enquanto estiver comigo.
JOÃO: Certamente que sim,
Alteza.
Os dois apertam as mãos, selando a paz. Beija sorri aliviada. O
casal segue para o centro do salão e ali dança seguidas músicas.
Pouco depois Pedro se afasta um instante, deixando Beija
sozinha. O Ouvidor se aproxima.
MOTTA: Apreciando o baile,
Dona Beija?
BEIJA: Muito, Dr. Motta.
Mas posso lhe dizer o mais gostei?
MOTTA: Diga. Não posso
adivinhar...
BEIJA: De ver essa sua cara
de tacho amassado ao me ver nos braços do Príncipe.
MOTTA: Você faz essas
coisas só para me insultar, não é mesmo?
BEIJA: Sim. Lembra da nossa
conversa em Paracatu, quando disse que não poderia me trazer para a Corte? Pois
bem, aqui estou eu. E não necessitei de um pingo da sua ajuda...
MOTTA: Quando saciará essa
sua sede de vingança?
BEIJA: Nunca, Motta, nunca!
Enquanto lembrar de todo o mal que me fez, nunca esquecerei de lhe castigar...
MOTTA: Devia me agradecer.
Mudei o rumo da sua vida. Se hoje você está aqui, indiretamente é graças a mim.
Eu a transformei numa mulher fina, de classe, traquejada. Não fosse por mim
ainda estaria enfiada naquele arraial feito um avestruz com a cabeça no buraco!
BEIJA (irritada): Devia
lhe agradecer por ter matado meu avô? Por ter tirado a minha honra, o meu
noivo? Por ter sido expulsa de Araxá?
A esposa de Motta, velha ciumenta e ranzinza que é, trata logo
de interromper a conversa.
VERIDIANA: Motta, não vai
apresentar a nova dama para a sua esposa?
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